quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Depois de Plínio Marcos

Voltando para casa depois de uma apresentação a chuva me fez encontrar com meu personagem, o Tião, ou mais precisamente, o Sr. João Antônio Pimentel, um homem de 43 anos, que aparentava ter mais de 50 por todo o desgaste passado em sua vida. Um homem que tinha os olhos cheios de lagrimas ao se falar da família e do abandono que passava que os tinha também ao se falar de Deus. Meio que se sentindo abandonado ate mesmo por ele, mas ainda acreditava que ele reapareceria em sua vida.

Paulista morava e trabalhava no Tocantins, fez questão de tirar seu antigo contracheque da carteira e me mostrar orgulhoso que é um trabalhador. Embora tenha ficado todo desconcertado com minha pergunta, indagando que já tinha um ano que não trabalhava.

Disse-me que a pior coisa que fez na vida foi ter vindo para essa Goiânia, que aqui sua vida desandou, sua mulher o largou e agora morava a mais de 6 meses na rua, que seu único bem era uma bicicleta. Maldita bicicleta que me insistia em o jogá-lo no chão, o deixando com um galo e sangue na cabeça, e um dos dedos na mão aparentemente quebrado, pois mal conseguia mexer a mesma.

É “seu” João a vida anda difícil, queria eu ter te conhecido antes. Antes de entrar no palco e “interpretar” o senhor de maneira tão superficial quanto toda sua carga e emoção precisará.

Maldita bicicleta que o derruba no chão, mesmo que a principal culpa não seja dela e sim de sua pequena garrafa de pinga. Que tratou logo de escondê-la quando eu disse q ele não podia beber tanto e deveria procurar uma maneira de dar caminho a sua, e ficar perto de quem lhe fizesse bem.

Ele colou sua mão em minha cabeça me fez uma oração, algum tempo depois que havia me oferecido um pedaço do seu churrasquinho, pedindo para Deus abençoar sempre meu caminho.

Quis saber da minha vida o que eu fazia, disse que fazia teatro, mas tive vergonha de dizer, após ser chamado de playboyzinho, que acabava de ter feito um morador de rua. Dizer isso para um seria piada, ainda mais um que se mostrava tão aberto e só queria mesmo conversar com alguém que lhe ouvisse e o enxergasse.

Mais que depressa ele também tratou em dizer que era artista, que trabalhou em circo como palhaço e que seus irmãos, hoje em Roraima, ainda trabalhavam com o circo e montando parques de diversões.

É “seu” João queria ter te conhecido antes. Uma pessoa que como ultimo palavra me disse. Meu filho estude, se dedique seja alguém siga o conselho desse velho que só cursou ate a 5º serie.

Tudo o que tenho para lhe dizer é : "Seu João, obrigado pelo tapa na minha cara!"

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